O “Lata-velha” humano.
Santos, Maria Madalena dos.
Desponta-se no cenário mundial, principalmente no setor da Educação, o
imprescindível “Lata-velha” humano, condições em que os profissionais da
educação vêm a se encontrarem após terem dado tudo de si em benefício do
desenvolvimento do cidadão, de sua ascensão social, para uma melhor qualidade
de vida; inserção no mercado de trabalho, concorrendo assim para a evolução do
desenvolvimento nacional e universal.
Falando-se
do Brasil, ainda bem que se têm programas voltados para o aprimoramento
educacional em termos de melhoria na aprendizagem como vários projetos do
governo e o “Soletrando” do programa televisivo do apresentador Luciano Huck,
onde os gestores educacionais inscrevem as escolas e os educandos têm tanto a
oportunidade de participar como de serem contemplados com prêmios, sendo as
escolas também agraciadas, além do reconhecimento público.
Visto
que o programa trabalha com o aprimoramento educacional e tem também o quadro
“Lata-velha” no qual se recuperam carros antigos, “cacarecos”, tornando-os
novos, modernos, bem equipados, imaginem agora, se esse programa se voltasse
para o ser humano, em especial o profissional da educação, cujo trabalho tanto
faz para o crescimento e o desenvolvimento da nação, e que, por fim, recai num “ajustamento
funcional” por tornar-se incapaz de produzir como antes, não por deficiência
intelectual, mas estrutural, física, devido aos desgastes sofridos com o tempo,
como no caso dos carros que, às vezes, o motor está em bom funcionamento, mas o
“esqueleto”, a estrutura que o sustenta, deixa de fazê-lo.
Quão
feliz a classe do Magistério ficaria ao ver a atenção dada aos seus colegas! Pela
recuperação física e emocional realizada nestes, pela sua valorização social a
qual é compartilhada, uma vez que, a classe governamental julga estar fazendo o
melhor que pode, disponibilizando-os nos setores educacionais para a realização
de atividades compatíveis com suas possibilidades. Ato louvável por não
explorá-los além dos limites, mas não o melhor.
Ademais, a classe precisa de uma
Política Pública de valorização profissional para o trabalho, de manutenção
individual e coletiva para o aperfeiçoamento de seu desempenho, o aprimoramento
da qualidade de vida; e, por fim, de segurança e tranquilidade para efetuar a
sua jornada de trabalho até o final da carreira, através de benefícios como
planos de saúde, ajuda de custo para tratamento de saúde, melhor atendimento
pelo IPSEMG nas cidades interioranas (visto que a contribuição é a mesma e o
atendimento é muito diferenciado entre capital e interior) e o retorno ao tempo
de serviço, independente da idade para a aposentadoria. Há de se lembrar de que
o servidor é Ser Humano. Há peças irrecuperáveis, as quais não permitem troca.
Criando-se
um sistema social voltado para a educação, apoiado por empresas, emissoras de TV
e outras, em associação ao sistema educacional, quem sabe os profissionais, um
dia, não poderão ser mais valorizados, atendidos, passando a ter um final de
carreira feliz?! Sem ter de se tornarem vítimas do sistema vergonhoso ao qual
sempre pertenceram, e de seus próprios infortúnios na vida, formando uma
subclasse dentro da classe do Magistério.
Sendo
a educação a base de tudo na sociedade, todos deveriam voltar-se em apoio a ela
para que a formação para o pleno exercício da cidadania não ficasse
comprometido, e sim, pudesse ser bem fundada por profissionais críticos,
criativos, hábeis, competentes e, acima de tudo, com autonomia, bom-humor e
muita vontade de viver, pois o estado de espírito do profissional é contagiante
tanto para o bem como para o mal. No entanto, quando estes perdem as
expectativas de vida, veem-se desvalorizados profissional e pessoalmente, deprimem-se,
afetando a todos ao seu redor.
Se carros velhos, “sucatas” que não tem nenhum sentimento são
recuperados, modernizados e vangloriados em festas, quanto mais glória terá a
recuperação da dignidade humana!
Para
recuperar uma “sucata”, carro velho, no Programa do Luciano Huck, o “Lata-velha”,
da rede Globo, há de ser enviada uma comovente carta para o programa e esta ser
selecionada. Este artigo em forma de texto visa ter a função desta carta
selecionada para o resgate de toda uma classe de profissionais que se dedica ao
trabalho por toda a vida, e que, no final da carreira, vê-se com autoestima
baixa, insegura quanto ao seu futuro, desvalorizada, doente e muito triste,
quando deveria sair feliz por ter cumprido bem sua missão de educador.
Será
esta a recompensa para quem batalhou tanto em prol da educação? Que todos
reflitam e ajam segundo a consciência de cidadania que têm e do tipo de cidadão
que querem ver se formar para enfrentar a complexidade desta aldeia globalizada
que é o mundo.